'O Cicómero' conta história de "libertação" em torno da escravatura

A historiadora Isabel Castro Henriques, doutorada em História de África, é a consultora histórica da peça cuja ação se situa "63 anos depois de ser proibida a importação de escravos para a metrópole", refere a companhia fundada e dirigida por Pedro Saavedra.
A importação de escravos africanos para a então designada metrópole foi proibida no reinado de José I, por um decreto de Marquês de Pombal datado de 12 de fevereiro de 1761.
A ação da peça passa-se, assim, por volta de 1824, numa velha propriedade no Alentejo onde uma família de descendentes de escravos libertados "fez sua a casa dos seus antigos donos", refere O Fim do Teatro.
Num dia cinzento, surge à porta da casa uma rapariga que diz ser viúva de Rómulo Bensaúde e que fugira do Brasil para ali "procurar refúgio e uma nova vida".
"Uma história de libertação coletiva, mas também da prisão individual em que a jovem Cândida vive com o seu passado colonial", dando início a uma "luta entre o passado e o presente, para perceber a quem pertence, de facto, a propriedade de 'O Cicómero'", acrescenta a companhia.
'Cicómero' é, segundo O Fim do Teatro, a corruptela de nome de árvore centenária plantada no meio de uma propriedade agrícola do Alentejo do início do século XIX e nela se "cria a melhor das testemunhas para um dos mais negros capítulos da história de Portugal", acrescenta a companhia dirigida por Pedro Saavedra.
"Para a maioria de nós, Portugal foi o primeiro país do mundo a abolir a escravatura [que só viria a ser abolida em 1869], para a maioria de nós, os escravos já não existem" e "para a maioria de nós o passado já passou, mas, para alguns de nós, a história não está bem contada", sublinha a companhia.
Elaborada em coautoria e interpretada por Catarina Matos, Iza da Costa, Miguel Ponte, Pedro Barbeitos, Pedro Saavedra e Sara Ferrada, a peça tem também autoria conjunta e voz de Alice Marcelino.
A cenografia é de Luís Santos, com assistência de Luís Monteiro Costa, e os figurinos de Chissangue Afonso, que também os confeciona juntamente com Sandra Guerreiro.
'O Cicómero' é a oitava criação de O Fim do Teatro, tem desenho de luz de Paulo Sabino e ilustração de Rui Guerra e repetirá no sábado, também às 21h00.
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